Segundo Arthur da Távola: “Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois. Não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido. Ter afinidade com alguém é muito raro. Mas, quando existe, não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. Afinidade é sentir com, não é sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber."
Segundo a Doutrina Espírita, somos seres imortais, o que significa dizer que tivemos um início no momento em que fomos criados por Deus, mas não teremos fim. Estamos “fadados” à felicidade infinita ao lado do Criador, mas Deus quer que nós mesmos “modelemos a nossa argila”. É por esta razão que vamos, lenta e gradualmente, evoluindo moral e intelectualmente por meio do processo da reencarnação.
Mas qual é o vínculo então entre a frase de Arthur da Távola e o conceito das reencarnações sucessivas descritas no parágrafo acima?
Muito simples; Ao longo das diversas existências corpóreas, tivemos e teremos a oportunidade de nos relacionarmos com uma infinidade de pessoas. Por afinidade, nos ligamos a muitas dessas pessoas ao longo dessas diversas experiências. Muitas delas já foram nossos parentes ou amigos próximos em existências passadas; com outras, no entanto não conseguimos ainda desenvolver o mesmo grau de afinidade. Talvez esse seja o fato que explique o porquê muitas vezes ao conhecermos certas pessoas tenhamos a impressão de que já somos amigos há muitos e muitos anos, enquanto em relação a outras sentimos repulsa. Seriam esses nossos inimigos do passado? Ou estariam essas pessoas simplesmente vibrando em uma faixa diferente da nossa?
Como nos explica o Evangelho Segundo o Espiritismo: Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não são os da consangüinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de idéias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consangüíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências. (Cap. IV, nº 13.)
Nos ensina ainda o Evangelho: Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e meus irmãos, isto é, minha família pelos laços do Espírito, pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe. A hostilidade que lhe moviam seus irmãos se acha claramente expressa em a narração de São Marcos, que diz terem eles o propósito de se apoderarem do Mestre, sob o pretexto de que este perdera o espírito. Informado da chegada deles, conhecendo os sentimentos que nutriam a seu respeito, era natural que Jesus dissesse, referindo-se a seus discípulos, do ponto de vista espiritual: "Eis aqui meus verdadeiros irmãos." Embora na companhia daqueles estivesse sua mãe, ele generaliza o ensino que de maneira alguma implica haja pretendido declarar que sua mãe segundo o corpo nada lhe era como Espírito, que só indiferença lhe merecia. Provou suficientemente o contrário em várias outras circunstâncias.
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